terça-feira, 25 de agosto de 2009

la vita non è dolce? - Federico, Marcello, Sofia

Todos estamos À Deriva

O novo filme de Heitor Dhalia aparenta ser muito diferente de seu trabalho anterior, O Cheiro do Ralo, que era, literalmente, um filme estranho de gente esquisita. Numa atmosfera suja e degradante, Dhalia construiu um universo de personagens ricos aos quais, embora nos pareça muito difícil no início, acabamos nos afeiçoando.

Em À Deriva, o diretor vai pelo caminho oposto. Na bela paisagem de Búzios, ele constrói um filme solar sobre uma família em férias de verão. Ou não. Aos poucos, os curiosos enquadramentos que buscam sempre os detalhes das cenas quase sempre luminosas revelam o que há nas sombras.
Nesse aspecto talvez resida o principal defeito do filme; o “comportamento” da câmera não se justifica em momento algum, e soa por vezes arrogante, com as trepidações e os enquadramentos inusitados. Mas ao vermos a menina Felipa descobrindo através deles a inevitabilidade do fim do casamento de seus pais e da chegada do mundo adulto com tanto sentimento, como o faz a atriz estreante (descoberta pelo Orkut!) Laura Neiva, é muito fácil ignorar qualquer defeito.

Perdida nesse universo de inevitabilidades, Felipa é a responsável pela sensação que permeia toda a película e, também, pelo seu título. Todos estamos à deriva. Aos poucos, suas angústias tomam conta da tela, conduzindo-nos às de todos os outros personagens. Vincent Cassel, ótimo pai, porém infiel à mulher, Débora Bloch, que está linda e honesta em seu papel, e até os irmãos mais novos da menina estão imersos na crise que se instala à volta deles.

Tanto na primeira quanto na última cena, ambas dentro d’água, a idéia de que estamos vagando, ora imersos, ora na superfície de nós mesmos e do mundo a nossa volta, soa mais bela e reconfortante, e até desejável. Há inúmeras direções que se pode tomar, tanto para melhor quanto para pior, e todas elas estão transbordando de mar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Careers are a 20th century invention and I don't want one"

Uma fala do filme Na Natureza Selvagem (é sempre sobre cinema). Mas a grande questão, no momento, é: I don't want one? É possível não saber? É, eu não sei.

Na faculdade, às vezes sinto inveja dos ternos ambulantes dos alunos de Direito, como se, através deles, reafirmassem a certeza de seu futuro, e do sucesso dele. É uma ilusão, sem dúvidas, e Chris, personagem da história real que deu origem ao filme, tinha isso bem claro em sua cabeça. Mas a verdade é que também não acho que a resposta esteja na natureza selvagem. Há carreiras e, principalmente, personagens de carreiras, aqueles que construíram-nas, que admiro. Mas, antes de tudo, há o medo. Ser aluna era tão confortável, quase quente e macio, como é ser trabalhadora? Mal sei ser universitária, espero aprender ao fim desses quatro anos de faculdade, mas quando é que vou aprender a fazer a tal da carreira? E que carreira, pelamor? Existem tantas!

Tenho um professor que constantemente nos lembra em sala de aula que a universidade nasceu como um lugar destinado a cultivar o conhecimento. Bonito isso, não? Por que diabos eu estou na universidade para aprender um tal de ofício no qual trabalhar, então? O mesmo professor, que dá aula na porra da universidade, diz que as carreiras são todas alienadas, condicionadas, que a gente mal têm controle sobre o que produz através de nosso trabalho... A gente resiste, discute, mas lá no fundo morre de medo de admitir que tem um quê de verdade nessa afirmação. Dá uma vontade de perguntar por que ele está dando aula, sabe?

"Meu senhor, por que é então que o senhor escolheu fazer carreira acadêmica, se a universidade já não é como o senhor acha que deveria ser, e se carreiras são, quase sempre, sinônimo de alienação?" Tenho raiva dele, e o admiro. Sobretudo a carreira que ele fez, na mesma profissão que acho que escolhi. Estranho isso, não? Como pessoa, não sei nada sobre ele, mas deconfio que se soubesse, ele não seria das minhas pessoas preferidas. Quantas contradições... e achei que já estava acostumada a elas; a vida têm tantas!

Talvez a grande questão seja outra: Por que é que admiro a carreira do cara que diz que carreiras não são as coisas mais legais do mundo? Trabalhar não deve ser a coisa mais legal do mundo mesmo, mas quem sabe? E se eu acabar admirando a minha carreira? Será? Mas estudar é legal, eu sempre fui estudante, e olha só, estou aqui, feliz e sadia. Não posso estudar a vida toda, não? Quem me conhece talvez pense algo como "Que é isso? E você lá é disciplinada e estudiosa?" ou "E a balada de sábado, não vai mais rolar?".
É, muitas contradições. A questão, seja lá qual for, permanece sem resposta.

Isso me lembra um outro filme. Beleza Roubada. Pelas lentes de Bertolucci, Liv Tyler vai à Toscana e descobre uma solução, uma resposta; para uma pergunta. No pacote, vêm outros milhares de mistérios. Toda vez que chego ao final desse filme me pego pensando quase sempre a mesma coisa, comovida nem sei bem com o quê: "que bonito isso". Isso o quê? Também não consigo explicar, acho. Mas pode ser apenas que não queria explicar mesmo. Vai saber.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

"Sob a lua, num velho trapiche abandonado..."

Saudades de Pedro Bala e da Bahia vadia e irresistível de Jorge Amado.