Um dos meus mais queridos professores deu, quatro dias atrás, uma aula muito intensa no conteúdo e na paixão sobre a nossa matéria – o cinema. Uma dessas aulas que proporcionam, finalmente, o feliz encontro com um assunto, autor ou tema que parecem tão distantes de nós, e pelo qual estivemos esperando. Foi assim comigo e com Bergman, hoje nesta aula. E de certa forma também comigo, Truffaut e a aula: um reencontro, sob outro viés ou faceta. Não o Truffaut suave das aventuras de Antoine Doinel que eu já aprendera a amar, mas o crítico incendiário. Igualmente apaixonante, como o cinema.
O fato é que ao fim de uma aula tão cinefílica, inundamo-nos de melancolia. Cadê o Truffaut nos dias de hoje? Não há. E que foi feito da Cahiers Du Cinema? Mesmo a Cahiers, segundo o professor, que ainda é a principal referência de pensamento crítico em publicações sobre cinema, está cada vez mais... vazia? “Indo pro buraco”, disse o professor, não sem um certo ar de bom humor, “como tudo, né”. Como tudo, ecoaram vários alunos.
E eu pensando: pronto. O novo filme de Lars Von Trier tomou conta de nós. Pra quê se importar, então? Tudo indo pro buraco. Truffaut fez com que eu o amasse... para nada? Para quando chegasse a minha vez de pensar, criticar e (quem sabe) fazer filmes, não tivesse mais espaço? Aí que pensei de novo no “ar de bom humor”. O que diabos fazia meu professor, encantado por um primeiro plano, contando da transformação que os críticos da Cahiers propuseram e ousaram alcançar, dizendo em seguida, em aula!, que tudo se vai pelo ralo? (convenhamos também que, diante da crítica atual, pelo menos na que consta na famooosa grande mídia, contra fatos não há argumentos)
Fiquei assim, pensando: pelo menos o cinema ainda é a matéria prima do trabalho dele, ele não pode acreditar tanto assim nessa história de Cahiers buraco abaixo. Aqui está ele, ensinando sobre cinema. Sobre amar o cinema! E concluí que talvez seja para isso mesmo. Pra chegar a nós, assim. Pra deixar uma centelha de vontade, de desejo, de cinema. Que seja. Que o buraco por onde tantas coisas importantes andam entrando é mais embaixo, e que podemos ir mais fundo que o buraco, mais ousados do que ele, e continuar pensando, escrevendo, criando, assistindo. No escuro do cinema.
(escrito sob forte influência do desavisado encontro com jovens turcos e Monika e o Desejo)
Qualquer Coisa
Cinema e outras crônicas
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Escrevendo (1)
Escrever sempre foi algo natural para mim. Há quem diga que é um prazer – para alguns, o maior. Ou que é uma necessidade. Que é aquilo que se quer fazer para ganhar a vida, que é aquilo em que se sai melhor. Não me lembro de já ter dito algo assim.
Comigo, escrever sempre fez parte – da rotina, do dia, do raciocínio, de mim. Sempre foi a melhor forma de conseguir uma boa nota na escola, ou de pedir desculpas quando estou errada, de mostrar o meu lado da história, de contar uma história.
Para mim, escrever é quase uma extensão do pensamento, porque é na palavra escrita que materializo melhor o que se passa na minha cabeça. Invejo quem sabe fazê-lo através do desenho ou da fotografia, por exemplo. Quando era menor, adorava desenhar, mas sempre acabava colocando títulos e legendas nos meus desenhos, porque para mim sempre faltava “dizer alguma coisa”. Tem gente que sabe fazer diferente, tira uma foto, faz um rabisco, e está tudo lá, a pessoa por inteira. Só senti isso, até hoje, através da escrita.
Mas não, ao longo de alguns bons anos já escrevendo, não sou daqueles que falam “preciso escrever ou eu morro”. Outro dia li um texto maravilhoso da Eliane Brum em que ela dizia o contrário: ou ela escreve, ou mata.
Essa urgência, que eu quase invejo, nunca foi minha. Por outro lado, quantas mágoas eu só consegui dissipar escrevendo? Cartas e mais cartas que escrevi para mim e para outros, muitas das quais nunca entreguei. Quando não escrevo sobre alguma angústia, parece que ela não vai embora - e eu ainda invejo a urgência alheia! Tá certo, mas acho que todos somos urgentes quando se trata de angústia.
Penso de novo na Eliane Brum, ao se definir como repórter: “sempre foi algo profundo, definitivo de mim”. Eu não sei se sou repórter, não sei me definir: todos os dias redescubro quem eu sou, a cada dia. Escrever muitas vezes não me esclarece nem ajuda em nada (muitas outras sim, mas não sempre), não me impede de cometer algum crime, e ainda não me arranjou um bom emprego. Mas, mesmo assim, eu escrevo.
Escrever, pra mim, não é urgente, não é necessariamente saudável, nem bom, nem ruim, não é o que eu sempre quis fazer da vida – ao menos não só isso. Mas é o que eu faço. Não sei por que, mas isso sempre fez parte de mim. O que eu sei é que sei escrever. Vai ver é por isso que eu escrevo.
Comigo, escrever sempre fez parte – da rotina, do dia, do raciocínio, de mim. Sempre foi a melhor forma de conseguir uma boa nota na escola, ou de pedir desculpas quando estou errada, de mostrar o meu lado da história, de contar uma história.
Para mim, escrever é quase uma extensão do pensamento, porque é na palavra escrita que materializo melhor o que se passa na minha cabeça. Invejo quem sabe fazê-lo através do desenho ou da fotografia, por exemplo. Quando era menor, adorava desenhar, mas sempre acabava colocando títulos e legendas nos meus desenhos, porque para mim sempre faltava “dizer alguma coisa”. Tem gente que sabe fazer diferente, tira uma foto, faz um rabisco, e está tudo lá, a pessoa por inteira. Só senti isso, até hoje, através da escrita.
Mas não, ao longo de alguns bons anos já escrevendo, não sou daqueles que falam “preciso escrever ou eu morro”. Outro dia li um texto maravilhoso da Eliane Brum em que ela dizia o contrário: ou ela escreve, ou mata.
Essa urgência, que eu quase invejo, nunca foi minha. Por outro lado, quantas mágoas eu só consegui dissipar escrevendo? Cartas e mais cartas que escrevi para mim e para outros, muitas das quais nunca entreguei. Quando não escrevo sobre alguma angústia, parece que ela não vai embora - e eu ainda invejo a urgência alheia! Tá certo, mas acho que todos somos urgentes quando se trata de angústia.
Penso de novo na Eliane Brum, ao se definir como repórter: “sempre foi algo profundo, definitivo de mim”. Eu não sei se sou repórter, não sei me definir: todos os dias redescubro quem eu sou, a cada dia. Escrever muitas vezes não me esclarece nem ajuda em nada (muitas outras sim, mas não sempre), não me impede de cometer algum crime, e ainda não me arranjou um bom emprego. Mas, mesmo assim, eu escrevo.
Escrever, pra mim, não é urgente, não é necessariamente saudável, nem bom, nem ruim, não é o que eu sempre quis fazer da vida – ao menos não só isso. Mas é o que eu faço. Não sei por que, mas isso sempre fez parte de mim. O que eu sei é que sei escrever. Vai ver é por isso que eu escrevo.
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terça-feira, 30 de novembro de 2010
Woody Allen
Sabe no cinema, quando o que se diz - as falas, timings, pontuações, entrelinhas do roteiro - e as imagens, planos, cores se encontram? Sabe quando o cinema acontece? Poucas coisas são tão comoventes.
Aí vai um frame de um desses raros momentos, que, não tão raro, Woody Allen sabe construir. Charlotte Rampling encarando-nos através da tela.
E é impossível saber o que é mais lindo: ela, o fato de ela estar mesmo olhando para além da tela, a música, ou a longa e inspirada fala do personagem Sandy nesse exato momento. Na dúvida, o filme sempre vale a pena.
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Um filme que veio da rua
Um filme dirigido pelo artista inglês conhecido como Banksy, grafiteiro e artista de rua mundialmente famoso não apenas pelo seu trabalho incrível e variado, mas também pela introspecção exagerada, afinal ele se recusa a revelar sua identidade, seu rosto e qualquer outro detalhe da sua vida pessoal.
Suas obras são o que sabemos dele e o fato de assinar a direção de um filme torna sua persona ainda mais interessante e curiosa. Logo, vindo de quem vem, “Exit Through the Gift Shop” não poderia deixar de ser uma obra de arte absolutamente surpreendente e original.
Banksy, como sabemos, nunca revela seu rosto, mas aparece encoberto falando diretamente com o público desde a primeira cena, supostamente para funcionar como um guia através das reviravoltas que o filme dará. Depois, somos apresentados a um personagem bastante carismático e curioso, Thierry Guetta, um cara que filma tudo o que vê pela frente, obsessivamente. Quando ele descobre a arte de rua e o fascínio que a marginalidade intrínseca a ela exerce, decide filmar diversos artistas de rua em ação para, quem sabe, num dia longínquo, montar um documentário sobre o tema.
O filme se subdivide em diversas camadas, construindo um jogo metalingüístico curiosíssimo, divertido e instigante. “Exit Through the Gift Shop” poderia ser muitos filmes, ao mesmo tempo que é um só. Não é uma obra acabada, característica que partilha com arte que pertence às ruas. O grafite, a pichação, as instalações, performances... Todos eles dependem de certa marginalização e liberdade para existir, e Banksy soube transmitir muito bem essa singularidade da street art pela tela do cinema.
Para além do jogo de espelhos entre personagem/pessoa e realidade/ficção, é impossível ignorar as boas cutucadas que o filme dá no cinema como catalisador da sociedade do espetáculo em que vivemos. Talvez esse seja mesmo o mote de “Exit Through the Gift Shop”, a espetacularização da vida e da arte, e o seu decorrente esvaziamento.
O que Banksy tem para dizer, e é muito difícil fazê-lo sem hipocrisia ou incoerência, é que talvez a marginalização não seja necessária somente para a arte de rua, mas para a arte como um todo. Rotular, divulgar, vender; são verbos que não combinam com nenhum processo criativo. Será?
O próprio Banksy, ao assinar a direção desse filme, gerou o merecido hype que fez as suas três exibições na 34ª Mostra de Cinema de São Paulo, entre outras sessões mundo afora, lotarem. Seu nome (embora ninguém saiba qual é) também virou uma grife, e quem assistir o filme sairá certo de que ele não é ingênuo a ponto de ignorar esse fato, o que não invalida em nada o argumento de “Exit Through The Gift Shop”. Como em seus famosos grafites, crítica social, ironia e humor ácido permeiam todo o filme. É bem por aí, entre o lúdico e o incisivo, que o filme propõe pertinentes e intrigantes reflexões a respeito da arte que se faz nessa tal pós-modernidade em que vivemos.
O pseudo/possível documentário vale também como um dos mais completos e criativos painéis da arte de rua já vistos no cinema. Assistimos a diferentes manifestações artísticas ditas underground sem nem perceber o tempo passar – hipnotizados pela imprevisibilidade dos temas e artistas sensacionais a que somos apresentados.
Banksy fez a proeza de unir num único trabalho uma brincadeira com as tênues e inesgotáveis fronteiras entre ficção e documentário; uma das mais contundentes críticas à mercantilização da arte; um profundo questionamento sobre o que define, afinal, uma obra de arte e, por último, mas não menos importante, um filme muito bom de assistir.
A tradução livre para o título do filme (ainda sem nome oficial em português) seria “saída pela loja”, mas “Exit Through the Gift Shop” passa longe de saídas e traduções fáceis. O filme fura todos os semáforos, vem correndo pelo meio da rua, arromba a porta da frente e não vai mais embora.
Suas obras são o que sabemos dele e o fato de assinar a direção de um filme torna sua persona ainda mais interessante e curiosa. Logo, vindo de quem vem, “Exit Through the Gift Shop” não poderia deixar de ser uma obra de arte absolutamente surpreendente e original.
Banksy, como sabemos, nunca revela seu rosto, mas aparece encoberto falando diretamente com o público desde a primeira cena, supostamente para funcionar como um guia através das reviravoltas que o filme dará. Depois, somos apresentados a um personagem bastante carismático e curioso, Thierry Guetta, um cara que filma tudo o que vê pela frente, obsessivamente. Quando ele descobre a arte de rua e o fascínio que a marginalidade intrínseca a ela exerce, decide filmar diversos artistas de rua em ação para, quem sabe, num dia longínquo, montar um documentário sobre o tema.
O filme se subdivide em diversas camadas, construindo um jogo metalingüístico curiosíssimo, divertido e instigante. “Exit Through the Gift Shop” poderia ser muitos filmes, ao mesmo tempo que é um só. Não é uma obra acabada, característica que partilha com arte que pertence às ruas. O grafite, a pichação, as instalações, performances... Todos eles dependem de certa marginalização e liberdade para existir, e Banksy soube transmitir muito bem essa singularidade da street art pela tela do cinema.
Para além do jogo de espelhos entre personagem/pessoa e realidade/ficção, é impossível ignorar as boas cutucadas que o filme dá no cinema como catalisador da sociedade do espetáculo em que vivemos. Talvez esse seja mesmo o mote de “Exit Through the Gift Shop”, a espetacularização da vida e da arte, e o seu decorrente esvaziamento.
O que Banksy tem para dizer, e é muito difícil fazê-lo sem hipocrisia ou incoerência, é que talvez a marginalização não seja necessária somente para a arte de rua, mas para a arte como um todo. Rotular, divulgar, vender; são verbos que não combinam com nenhum processo criativo. Será?
O próprio Banksy, ao assinar a direção desse filme, gerou o merecido hype que fez as suas três exibições na 34ª Mostra de Cinema de São Paulo, entre outras sessões mundo afora, lotarem. Seu nome (embora ninguém saiba qual é) também virou uma grife, e quem assistir o filme sairá certo de que ele não é ingênuo a ponto de ignorar esse fato, o que não invalida em nada o argumento de “Exit Through The Gift Shop”. Como em seus famosos grafites, crítica social, ironia e humor ácido permeiam todo o filme. É bem por aí, entre o lúdico e o incisivo, que o filme propõe pertinentes e intrigantes reflexões a respeito da arte que se faz nessa tal pós-modernidade em que vivemos.
O pseudo/possível documentário vale também como um dos mais completos e criativos painéis da arte de rua já vistos no cinema. Assistimos a diferentes manifestações artísticas ditas underground sem nem perceber o tempo passar – hipnotizados pela imprevisibilidade dos temas e artistas sensacionais a que somos apresentados.
Banksy fez a proeza de unir num único trabalho uma brincadeira com as tênues e inesgotáveis fronteiras entre ficção e documentário; uma das mais contundentes críticas à mercantilização da arte; um profundo questionamento sobre o que define, afinal, uma obra de arte e, por último, mas não menos importante, um filme muito bom de assistir.
A tradução livre para o título do filme (ainda sem nome oficial em português) seria “saída pela loja”, mas “Exit Through the Gift Shop” passa longe de saídas e traduções fáceis. O filme fura todos os semáforos, vem correndo pelo meio da rua, arromba a porta da frente e não vai mais embora.
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segunda-feira, 26 de julho de 2010
"From which poem are these?" - "Yours"
Bright star, would I were stedfast as thou art--
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors--
No--yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever--or else swoon to death.
John Keats
*
Jane Campion
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors--
No--yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever--or else swoon to death.
John Keats
*
Jane Campion
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Tinha um muro
Antigamente, tinha um muro. Era fácil: ou pulava prum lado.
Ou fincava os pés, as pernas e todo o corpo na terra e na lama do lado oposto.
Sustentando a si mesmo. E ao outro.
Não tem mais muro pra pular nem sustentar. O desafio não é o muro, é o pulo.
E agora?
Ou fincava os pés, as pernas e todo o corpo na terra e na lama do lado oposto.
Sustentando a si mesmo. E ao outro.
Não tem mais muro pra pular nem sustentar. O desafio não é o muro, é o pulo.
E agora?
sábado, 8 de maio de 2010
Tudo pode dar certo com um Woody Allen menos amargo e mais gozador
Se a discussão girar em torno da empatia, Vicky Cristina Barcelona sai disparado na comparação que inventei na minha cabeça entre os últimos cinco filmes de Woody Allen, diretor com quem, e com cujos filmes, estabeleci uma intensa relação afetiva, que talvez me impeçam de ser imparcial, ou, quem sabe, pelo mesmo motivo, não.
(Caso seja a parcialidade a opção vigente nesse momento, minha defesa é que quanto mais estudo jornalismo, menos acredito na imparcialidade do ser humano e, conseqüentemente, do jornalista. Mas essa reflexão não cabe aqui; desviaria do assunto – cinema, e também não teria fim: tenho a impressão de que se seguir, de fato, essa carreira que eu escolhi estudar, vou passar o resto da vida refletindo sobre essa bendita questão/contradição do jornalismo: as tais imparcialidade e objetividade jornalísticas)
Voltando a Woody Allen. Assisti a seu novo filme, Tudo pode dar certo, na sua estréia nos cinemas brasileiros, há uma semana - e não, eu não escrevo estreia corretamente segundo a nova gramática(?).
A impressão que tive, embora não houvesse uma María Elena e um Juan Antonio por quem me apaixonar, é que esse é o melhor filme do diretor desde Match Point. Acho, inclusive, que este último dialoga abertamente com o primeiro desses cinco filmes (Match Point, Scoop, O Sonho de Cassandra, Vicky Cristina Barcelona e Tudo Pode Dar Certo, respectivamente), e talvez isso o enriqueça bastante.
Match Point anuncia desde o título que é um filme sobre a sorte. A referência ao ponto final do jogo de tênis e ao conceito de jogo mesmo, porque em algum momento, em qualquer jogo, a sorte pode mudar a situação, e não importa quanto você tenha se preparado, ou não, para esse momento, ele não depende inteiramente de você. E é exatamente isso que acontece diante de nossos olhos embasbacados em Match Point: um crime hediondo, terrível, desses que acontecem sempre por aí, e somos testemunhas, mas não faz diferença, porque o descuido do autor é o que salva sua pele.
O que temos em Tudo Pode Dar Certo, ou, no original, Whatever Works? Um brilhante físico quase ganhador do Nobel que, pelo amor de deus, perto do Alvy Singer de Annie Hall ou mesmo do Dobel, no mais recente Igual a Tudo na Vida, é um louco desvairado e que, ainda por cima, canta parabéns-à-você enquanto lava as mãos. Nem preciso, mas vou dizer: Larry David é o grande responsável por esse personagem, perdoem o trocadilho, dar tão certo. O cara ligou as neuroses do Woody Allen nos 220!
Esse homem, Boris Yellnikoff, acha a vida previsível e desprezível, porque, no fim das contas, todos vamos morrer, e cada vez que ele se lembra disso é um deus-nos-acuda, para ele e para todos os outros personagens do filme, menos para nós, felizes espectadores, de cuja presença, aliás, ele é consciente. Mas a verdade é que ele não contava com a aparição de Evan Rachel Wood (que, na minha opinião de menininha-quase-da-idade-dela, é sensacional) interpretando Melody St. Anne Celestine, moça fugida do interior, extremamente religiosa e conservadora, que se apaixona por ele.
Era tudo que ele não queria, mas daí pra frente qualquer coisa pode acontecer e acontece. Se Boris jamais imaginaria conhecer Melody, imagine o que acontece quando nos deparamos com a mãe dela, vivida por uma Patrícia Clarkson (saída diretamente de Vicky Cristina Barcelona?) maravilhosamente louca?
Porém, por trás do imprevisível, ainda há Nova York, pelos olhos do diretor e do seu rabuegnto alter-ego, os monólogos calçadas afora, o jazz, o Central Park, as reflexões e as piadas, e já nem sabemos mais qual é qual.
Pensando bem, não é só com Match Point que Tudo Pode Dar Certo conversa, em Vicky Cristina Barcelona há a celebração da vida e do amor, sem convenções e aparências que também aparece nesse filme. Em Annie Hall, o protagonista já fazia reflexões mirando a tela como se nós, do outro lado dela, estivéssemos ouvindo (e não e que estamos?).
Mas acho que gostei muito da relação entre Match Point e este último filme porque, comparado ao primeiro, Woody Allen aparece menos pessimista agora, embora continue debatendo os mesmos temas.
Amargo e dramático ou divertido e gozador, ele continua falando sobre as mesmas coisas, mas eu realmente acho isso fantástico, porque sua obra é fiel ao que ele pensa e sente em relação ao mundo, e nos permite observar a vida junto com ele, através de seus filmes. Mais fantástico ainda é que da mesma forma que saímos destruídos de Match Point por conta da inevitabilidade da sorte e das circunstâncias, quando a inverossímil história de Boris termina, sabemos que, de algum jeito, tudo pode dar certo.
(Caso seja a parcialidade a opção vigente nesse momento, minha defesa é que quanto mais estudo jornalismo, menos acredito na imparcialidade do ser humano e, conseqüentemente, do jornalista. Mas essa reflexão não cabe aqui; desviaria do assunto – cinema, e também não teria fim: tenho a impressão de que se seguir, de fato, essa carreira que eu escolhi estudar, vou passar o resto da vida refletindo sobre essa bendita questão/contradição do jornalismo: as tais imparcialidade e objetividade jornalísticas)
Voltando a Woody Allen. Assisti a seu novo filme, Tudo pode dar certo, na sua estréia nos cinemas brasileiros, há uma semana - e não, eu não escrevo estreia corretamente segundo a nova gramática(?).
A impressão que tive, embora não houvesse uma María Elena e um Juan Antonio por quem me apaixonar, é que esse é o melhor filme do diretor desde Match Point. Acho, inclusive, que este último dialoga abertamente com o primeiro desses cinco filmes (Match Point, Scoop, O Sonho de Cassandra, Vicky Cristina Barcelona e Tudo Pode Dar Certo, respectivamente), e talvez isso o enriqueça bastante.
Match Point anuncia desde o título que é um filme sobre a sorte. A referência ao ponto final do jogo de tênis e ao conceito de jogo mesmo, porque em algum momento, em qualquer jogo, a sorte pode mudar a situação, e não importa quanto você tenha se preparado, ou não, para esse momento, ele não depende inteiramente de você. E é exatamente isso que acontece diante de nossos olhos embasbacados em Match Point: um crime hediondo, terrível, desses que acontecem sempre por aí, e somos testemunhas, mas não faz diferença, porque o descuido do autor é o que salva sua pele.
O que temos em Tudo Pode Dar Certo, ou, no original, Whatever Works? Um brilhante físico quase ganhador do Nobel que, pelo amor de deus, perto do Alvy Singer de Annie Hall ou mesmo do Dobel, no mais recente Igual a Tudo na Vida, é um louco desvairado e que, ainda por cima, canta parabéns-à-você enquanto lava as mãos. Nem preciso, mas vou dizer: Larry David é o grande responsável por esse personagem, perdoem o trocadilho, dar tão certo. O cara ligou as neuroses do Woody Allen nos 220!
Esse homem, Boris Yellnikoff, acha a vida previsível e desprezível, porque, no fim das contas, todos vamos morrer, e cada vez que ele se lembra disso é um deus-nos-acuda, para ele e para todos os outros personagens do filme, menos para nós, felizes espectadores, de cuja presença, aliás, ele é consciente. Mas a verdade é que ele não contava com a aparição de Evan Rachel Wood (que, na minha opinião de menininha-quase-da-idade-dela, é sensacional) interpretando Melody St. Anne Celestine, moça fugida do interior, extremamente religiosa e conservadora, que se apaixona por ele.
Era tudo que ele não queria, mas daí pra frente qualquer coisa pode acontecer e acontece. Se Boris jamais imaginaria conhecer Melody, imagine o que acontece quando nos deparamos com a mãe dela, vivida por uma Patrícia Clarkson (saída diretamente de Vicky Cristina Barcelona?) maravilhosamente louca?
Porém, por trás do imprevisível, ainda há Nova York, pelos olhos do diretor e do seu rabuegnto alter-ego, os monólogos calçadas afora, o jazz, o Central Park, as reflexões e as piadas, e já nem sabemos mais qual é qual.
Pensando bem, não é só com Match Point que Tudo Pode Dar Certo conversa, em Vicky Cristina Barcelona há a celebração da vida e do amor, sem convenções e aparências que também aparece nesse filme. Em Annie Hall, o protagonista já fazia reflexões mirando a tela como se nós, do outro lado dela, estivéssemos ouvindo (e não e que estamos?).
Mas acho que gostei muito da relação entre Match Point e este último filme porque, comparado ao primeiro, Woody Allen aparece menos pessimista agora, embora continue debatendo os mesmos temas.
Amargo e dramático ou divertido e gozador, ele continua falando sobre as mesmas coisas, mas eu realmente acho isso fantástico, porque sua obra é fiel ao que ele pensa e sente em relação ao mundo, e nos permite observar a vida junto com ele, através de seus filmes. Mais fantástico ainda é que da mesma forma que saímos destruídos de Match Point por conta da inevitabilidade da sorte e das circunstâncias, quando a inverossímil história de Boris termina, sabemos que, de algum jeito, tudo pode dar certo.
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quinta-feira, 22 de abril de 2010
http://twitter.com/lettertomandela
Mandela,
When I read or listen to your name, I can see it inspires a mix of strenght, peace and hope. I recently watched Clint Eastwood film, "Invictus", and I couldn't help admiring you even more. Again, this sensation or inspiration of strenght, peace and hope grows inside everywhere your story has been told.
Your story, which is irrevogably and beautifully attached to Africa's history. Thank you, Mandela. Thank you for this attachement that brought hope to a place that looks so hopeless like Africa. Because of you, we know that this it's not true. Thank you, because now and then, you bring hope to the rest of the world.
Anyway, you bring hope for me. Here, in Brasil, so distant from South Africa, and yet so close. Thak you, Mandela.
Nevermind I never met you, I will never forget you.
Beatriz
When I read or listen to your name, I can see it inspires a mix of strenght, peace and hope. I recently watched Clint Eastwood film, "Invictus", and I couldn't help admiring you even more. Again, this sensation or inspiration of strenght, peace and hope grows inside everywhere your story has been told.
Your story, which is irrevogably and beautifully attached to Africa's history. Thank you, Mandela. Thank you for this attachement that brought hope to a place that looks so hopeless like Africa. Because of you, we know that this it's not true. Thank you, because now and then, you bring hope to the rest of the world.
Anyway, you bring hope for me. Here, in Brasil, so distant from South Africa, and yet so close. Thak you, Mandela.
Nevermind I never met you, I will never forget you.
Beatriz
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