quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Careers are a 20th century invention and I don't want one"

Uma fala do filme Na Natureza Selvagem (é sempre sobre cinema). Mas a grande questão, no momento, é: I don't want one? É possível não saber? É, eu não sei.

Na faculdade, às vezes sinto inveja dos ternos ambulantes dos alunos de Direito, como se, através deles, reafirmassem a certeza de seu futuro, e do sucesso dele. É uma ilusão, sem dúvidas, e Chris, personagem da história real que deu origem ao filme, tinha isso bem claro em sua cabeça. Mas a verdade é que também não acho que a resposta esteja na natureza selvagem. Há carreiras e, principalmente, personagens de carreiras, aqueles que construíram-nas, que admiro. Mas, antes de tudo, há o medo. Ser aluna era tão confortável, quase quente e macio, como é ser trabalhadora? Mal sei ser universitária, espero aprender ao fim desses quatro anos de faculdade, mas quando é que vou aprender a fazer a tal da carreira? E que carreira, pelamor? Existem tantas!

Tenho um professor que constantemente nos lembra em sala de aula que a universidade nasceu como um lugar destinado a cultivar o conhecimento. Bonito isso, não? Por que diabos eu estou na universidade para aprender um tal de ofício no qual trabalhar, então? O mesmo professor, que dá aula na porra da universidade, diz que as carreiras são todas alienadas, condicionadas, que a gente mal têm controle sobre o que produz através de nosso trabalho... A gente resiste, discute, mas lá no fundo morre de medo de admitir que tem um quê de verdade nessa afirmação. Dá uma vontade de perguntar por que ele está dando aula, sabe?

"Meu senhor, por que é então que o senhor escolheu fazer carreira acadêmica, se a universidade já não é como o senhor acha que deveria ser, e se carreiras são, quase sempre, sinônimo de alienação?" Tenho raiva dele, e o admiro. Sobretudo a carreira que ele fez, na mesma profissão que acho que escolhi. Estranho isso, não? Como pessoa, não sei nada sobre ele, mas deconfio que se soubesse, ele não seria das minhas pessoas preferidas. Quantas contradições... e achei que já estava acostumada a elas; a vida têm tantas!

Talvez a grande questão seja outra: Por que é que admiro a carreira do cara que diz que carreiras não são as coisas mais legais do mundo? Trabalhar não deve ser a coisa mais legal do mundo mesmo, mas quem sabe? E se eu acabar admirando a minha carreira? Será? Mas estudar é legal, eu sempre fui estudante, e olha só, estou aqui, feliz e sadia. Não posso estudar a vida toda, não? Quem me conhece talvez pense algo como "Que é isso? E você lá é disciplinada e estudiosa?" ou "E a balada de sábado, não vai mais rolar?".
É, muitas contradições. A questão, seja lá qual for, permanece sem resposta.

Isso me lembra um outro filme. Beleza Roubada. Pelas lentes de Bertolucci, Liv Tyler vai à Toscana e descobre uma solução, uma resposta; para uma pergunta. No pacote, vêm outros milhares de mistérios. Toda vez que chego ao final desse filme me pego pensando quase sempre a mesma coisa, comovida nem sei bem com o quê: "que bonito isso". Isso o quê? Também não consigo explicar, acho. Mas pode ser apenas que não queria explicar mesmo. Vai saber.

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