terça-feira, 25 de agosto de 2009

Todos estamos À Deriva

O novo filme de Heitor Dhalia aparenta ser muito diferente de seu trabalho anterior, O Cheiro do Ralo, que era, literalmente, um filme estranho de gente esquisita. Numa atmosfera suja e degradante, Dhalia construiu um universo de personagens ricos aos quais, embora nos pareça muito difícil no início, acabamos nos afeiçoando.

Em À Deriva, o diretor vai pelo caminho oposto. Na bela paisagem de Búzios, ele constrói um filme solar sobre uma família em férias de verão. Ou não. Aos poucos, os curiosos enquadramentos que buscam sempre os detalhes das cenas quase sempre luminosas revelam o que há nas sombras.
Nesse aspecto talvez resida o principal defeito do filme; o “comportamento” da câmera não se justifica em momento algum, e soa por vezes arrogante, com as trepidações e os enquadramentos inusitados. Mas ao vermos a menina Felipa descobrindo através deles a inevitabilidade do fim do casamento de seus pais e da chegada do mundo adulto com tanto sentimento, como o faz a atriz estreante (descoberta pelo Orkut!) Laura Neiva, é muito fácil ignorar qualquer defeito.

Perdida nesse universo de inevitabilidades, Felipa é a responsável pela sensação que permeia toda a película e, também, pelo seu título. Todos estamos à deriva. Aos poucos, suas angústias tomam conta da tela, conduzindo-nos às de todos os outros personagens. Vincent Cassel, ótimo pai, porém infiel à mulher, Débora Bloch, que está linda e honesta em seu papel, e até os irmãos mais novos da menina estão imersos na crise que se instala à volta deles.

Tanto na primeira quanto na última cena, ambas dentro d’água, a idéia de que estamos vagando, ora imersos, ora na superfície de nós mesmos e do mundo a nossa volta, soa mais bela e reconfortante, e até desejável. Há inúmeras direções que se pode tomar, tanto para melhor quanto para pior, e todas elas estão transbordando de mar.

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