quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Por onde anda a Nouvelle Vague?

Um dos meus mais queridos professores deu, quatro dias atrás, uma aula muito intensa no conteúdo e na paixão sobre a nossa matéria – o cinema. Uma dessas aulas que proporcionam, finalmente, o feliz encontro com um assunto, autor ou tema que parecem tão distantes de nós, e pelo qual estivemos esperando. Foi assim comigo e com Bergman, hoje nesta aula. E de certa forma também comigo, Truffaut e a aula: um reencontro, sob outro viés ou faceta. Não o Truffaut suave das aventuras de Antoine Doinel que eu já aprendera a amar, mas o crítico incendiário. Igualmente apaixonante, como o cinema.

O fato é que ao fim de uma aula tão cinefílica, inundamo-nos de melancolia. Cadê o Truffaut nos dias de hoje? Não há. E que foi feito da Cahiers Du Cinema? Mesmo a Cahiers, segundo o professor, que ainda é a principal referência de pensamento crítico em publicações sobre cinema, está cada vez mais... vazia? “Indo pro buraco”, disse o professor, não sem um certo ar de bom humor, “como tudo, né”. Como tudo, ecoaram vários alunos.

E eu pensando: pronto. O novo filme de Lars Von Trier tomou conta de nós. Pra quê se importar, então? Tudo indo pro buraco. Truffaut fez com que eu o amasse... para nada? Para quando chegasse a minha vez de pensar, criticar e (quem sabe) fazer filmes, não tivesse mais espaço? Aí que pensei de novo no “ar de bom humor”. O que diabos fazia meu professor, encantado por um primeiro plano, contando da transformação que os críticos da Cahiers propuseram e ousaram alcançar, dizendo em seguida, em aula!, que tudo se vai pelo ralo? (convenhamos também que, diante da crítica atual, pelo menos na que consta na famooosa grande mídia, contra fatos não há argumentos)

Fiquei assim, pensando: pelo menos o cinema ainda é a matéria prima do trabalho dele, ele não pode acreditar tanto assim nessa história de Cahiers buraco abaixo. Aqui está ele, ensinando sobre cinema. Sobre amar o cinema! E concluí que talvez seja para isso mesmo. Pra chegar a nós, assim. Pra deixar uma centelha de vontade, de desejo, de cinema. Que seja. Que o buraco por onde tantas coisas importantes andam entrando é mais embaixo, e que podemos ir mais fundo que o buraco, mais ousados do que ele, e continuar pensando, escrevendo, criando, assistindo. No escuro do cinema.

(escrito sob forte influência do desavisado encontro com jovens turcos e Monika e o Desejo)

Nenhum comentário: